Um dos principais papéis reservados à
Educação é o de capacitar o indivíduo a dominar o próprio desenvolvimento,
fornecendo-lhe, o mais cedo possível, o “passaporte para a vida”, levando-o a
compreender melhor a si mesmo e aos outros, de forma a poder participar da vida
em sociedade.
O atual contexto social possui
prioridades e exigências diferentes de épocas passadas, e a escola passa a ser
o espaço em que as relações humanas são moldadas, deixando de ser o lugar no
qual professores apenas transmitem um acervo de conhecimentos para gerações
mais novas.
Hoje, a escola possui um caráter
formador, aprimorando valores e atitudes, desenvolvendo, desde a mais tenra
idade, o sentido da observação, despertando a curiosidade intelectual nas
crianças, capacitando-as a buscar informações, onde quer que elas estejam, para
usá-las no seu cotidiano.
Segundo
Piaget, a etapa dos dois aos seis anos é uma das fases mais importantes do
desenvolvimento humano, pois nela ocorrem inovações radicais na inteligência. É
também nessa etapa que as crianças constroem os padrões de aprendizagem formais
que utilizarão durante toda a sua vida acadêmica. Aprender, portanto, passa a
ser o ponto crucial do processo. A partir dos três ou quatro anos, de uma
maneira geral, as crianças podem se beneficiar mais com as experiências
enriquecedoras oferecidas na escola do que exclusivamente as oferecidas em
casa. Sobretudo, a interação com outras crianças e adultos que lhes propõem
atividades apropriadas ao seu nível pode significar uma ajuda extraordinária no
desenvolvimento de suas capacidades. Trazer o mundo para dentro da escola e
fazer a criança se “apaixonar” pelo conhecimento é a
principal meta da Educação Infantil.
Por outro lado, pesquisas
neurológicas recentes reforçam a importância da aprendizagem nos anos iniciais,
ao demonstrarem que aos três anos o cérebro humano tem estrutura pronta para
aprender e nele ocorrem cerca de um trilhão de movimentos sinápticos, número
que representa o auge das conexões sinápticas do cérebro humano, sendo
importante aproveitar as “janelas de oportunidades”, oferecendo estímulos para
as crianças desenvolverem o maior número possível de habilidades.
Durante os cinco primeiros anos de vida,
as crianças aprendem o padrão básico do discurso que usarão no decorrer de suas
vidas; absorvem naturalmente a linguagem, ouvindo e utilizando a do adulto como
referência. Porém, não é só ouvindo e repetindo palavras que serão capazes de
construir a linguagem. É principalmente pelo significado, pelas aproximações
com a realidade e pela disposição para procurar evidências que as levem a
mudanças de hipóteses que são capazes de compreender o mundo e agir sobre ele.
Ouvir, falar, ler e escrever são
habilidades que se desenvolvem em total interligação. A linguagem não é
aprendida isoladamente, mas integrada a todas as atividades e vivida a cada
dia. Ela é a chave do desenvolvimento intelectual e possibilita ao indivíduo
expressar seus sentimentos e seus pensamentos.
Desta forma, à medida que as crianças
começam a adquirir as habilidades de raciocínio verbal, elas necessitam de uma
instrução reflexiva, ou seja, uma aprendizagem mediada por um adulto, que faz
com que elas reflitam sobre o próprio pensamento. Dentro dessas perspectivas, a
Educação Infantil permite que as crianças sejam pensadores sistêmicos, aprendam
a refletir sobre seus modelos mentais, a trabalhar em equipe e a construir
visões compartilhadas com outros, e, quanto mais cedo isso acontecer, melhor é
para o desenvolvimento da criança.
O maior desafio, porém, é fazer
justiça ao potencial de desenvolvimento da criança, buscando recursos para
enriquecê-lo, saindo do conceito singular de alfabetização para compreendê-lo
como uma alfabetização para o mundo, dando possibilidades às meninas e aos
meninos de se apropriarem de ferramentas básicas que lhes permitam se comunicar
e seguir aprendendo.
Segundo James Heckeman, prêmio Nobel
de Economia, “deixar de fornecer estímulos às crianças nos primeiros anos de
vida custa caro para elas e para um país”.
Autor:Maria Celia Montagna de Assumpção é
psicopedagoga e autora do material de Educação Infantil do Sistema Anglo de
Ensino.
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