17 perguntas
e respostas sobre o comportamento infantil
Listamos algumas
situações em que os pais se perguntam como proceder ou como resolver tudo da
melhor maneira possível
O que fazer quando
seu filho morde o amiguinho, dá tapas em você ou se atira no chão e começa a
gritar? A ideia, claro, é sempre optar pelo caminho da boa educação. Para isso,
conversamos com alguns especialistas, que sugerem maneiras de como lidar com o
pequeno –seja um bebê, seja uma criança pequenina – diante desses comportamentos.
Decifrar o
comportamento infantil não é tarefa fácil para os pais. A busca por respostas
costuma esbarrar na maneira como eles criam os filhos, na quantidade de “nãos”
que conseguem dizer a eles, nos limites que são capazes de impor.
Muitas vezes, os
adultos intuem como devem agir, mas o medo de frustrar as crianças acaba
resultando em resignação. “Elas são assim mesmo”, dizem. Realmente, crianças
têm atitudes-padrão em cada fase da vida, mas isso não significa que os adultos
tenham de acatar ordens e aceitar todos os ataques como naturais no processo de
desenvolvimento. Para ajudar os pais a agir nesses momentos difíceis,
procuramos especialistas em educação e comportamento infantil, que sugerem
alguns caminhos.
Até os 2 anos de
idade
1. Meu filho tem a
mania de morder as pessoas. Como mostrar a ele que isso é errado?
“É até esperado
pelos profissionais que lidam com crianças que elas façam isso até os 3 ou 4
anos de idade, mas os adultos não podem permitir que mordam, porque machuca, é
errado”, explica Silvia Amaral, pedagoga, psicopedagoga, coordenadora da Elipse
Clínica Multidisciplinar e conselheira da Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
No momento em que
seu filho morder um coleguinha ou qualquer outra pessoa, Silvia aconselha a boa
e velha conversa olhos nos olhos. “Fique na mesma altura que a criança e fale
firmemente que isso não pode nem deve mais acontecer porque machuca e dói. Os pais
têm de deixar claro que não aprovam o comportamento porque, mesmo elas não
tendo noções claras de certo e errado, não podem fazer tudo que querem”, diz
ela.
Isso não significa
que o comportamento não vá se repetir, mas todas as vezes em que isso ocorrer é
necessário deixar clara sua posição. “Agora, se acontecer com frequência, toda
semana, por exemplo, significa que a agressão está se tornando um hábito e é
preciso buscar a ajuda de um profissional.”
2. O que faço para
meu filho parar de chorar?
Para Vera
Iaconelli, psicóloga e coordenadora do Instituto Gerar – Escola de Pais, antes
dos 2 anos de idade, o choro nunca é de manha. “Nessa fase, a criança não tem
recursos para isso, portanto o choro constante indica algum tipo de
desconforto, físico ou emocional, que precisa ser investigado pelo médico. Como
não sabe falar, o bebê usa o choro para demonstrar seu sofrimento.” A partir
dos 2 anos, porém, a criança já percebe como pode manipular os pais e usa o
choro para tentar conseguir o que deseja. “Eu acredito que uma das formas de
ajudá-la a aprender a lidar com as frustrações seja não atendendo a seus
desejos quando eles vêm junto com o choro de birra.”
3. Preferir a
companhia do pai/mãe ou de outra pessoa em determinado momento significa que
meu filho não gosta de mim?
Faz parte da
natureza humana preferir a companhia de uma ou outra pessoa, e o ser humano
aprende a demonstrar isso logo cedo. Os pais devem se preparar, pois os filhos
sempre buscam a companhia de um ou outro por razões que nem sempre ficam
claras. Se é para jogar bola, o menino geralmente chamará o pai, mesmo que a
mãe adore futebol. Para ir ao cinema, pode preferir ir com a mãe ou a avó.
Quando nenê, às vezes adora o colo de uma tia, embora nessa fase o mais comum
seja desejar ficar com a mãe. “Os pais precisam ter maturidade para aceitar
essa frustração, pois frequentemente os filhos vão querer estar longe deles, em
especial quando crescerem. É difícil, mas eles sabem que criam os filhos para o
mundo e um dia serão preteridos”, afirma Vera Iaconelli.
4. Como devo agir
diante de um ataque de fúria do meu filho em locais públicos ou se ele chuta
quando não é atendido?
A sugestão da
psicopedagoga Silvia Amaral é você tentar impedir abraçando a criança por trás
na tentativa de contê-la e mostrar sua contrariedade. Atenção: nunca dizer que
você está contra ela, mas que o comportamento dela é errado, que você não
aprova a maneira de ela agir. “Se não der resultado e ela não estiver correndo
perigo, se batendo, por exemplo, sugiro que os pais se afastem. É melhor do que
ficar perto, morrendo de vergonha do que as pessoas estão pensando de você como
mãe e acabar cedendo. Ao perceber que os espectadores que importam não estão
presentes, ela vai parar. Outra saída é pegá-la no colo e levar para o carro,
gritando mesmo. Quando ela se acalmar, converse com ela, mas jamais volte para
fazer a vontade dela.”
5. Devo intervir
quando o caçula bate no irmão mais velho?
Sim, pois a
agressão física não deve ser tolerada. É importante para a criança aprender a
expressar a raiva ou o ciúme usando as palavras. Para a psicóloga, é importante
que os sentimentos sejam transformados em palavras, e não em tapas. No caso de
um bebê menor de 2 anos, os pais devem segurar sua mão e dizer que não pode
bater, mostrar que o irmão está triste, que machuca. “Em vez de dizer à criança
que ela ‘tem de’ gostar do irmão, o correto é sentar e tentar entender o que
está acontecendo e explicar que você também sente ciúme, que é normal, mas que
nem por isso sai estapeando os outros”, diz Vera. Aliás, este é um ponto
importante: o do exemplo. Se você vive se gabando de ter descido a mão na
engraçadinha que deu em cima do seu marido quando vocês ainda eram noivos, por
exemplo, acha mesmo que pode dizer aos seus filhos para não usarem a força?
6. Meu filho adora
dar tapas na cara e puxar o cabelo das pessoas. O que devo dizer a ele nessas
horas?
Os pais costumam
achar graça, mas as especialistas são unânimes: não permita que isso aconteça
com você nem com ninguém. “Segure a mão do bebê, não ria, mostre com cara feia
que você fica triste quando isso acontece, pois é observando a reação alheia
que ele aprende a interpretar os sentimentos e a se colocar no lugar do outro.
Fale sempre do seu sentimento. Nunca diga que a criança é má ou feia. E não
caia na armadilha de revidar com palmada. Se fizer isso, estará reforçando o
aprendizado da agressividade física, um mau exemplo”, diz a psicopedagoga
Silvia Amaral.
7. Quando é
contrariado, meu filho começa a gritar. Como posso mostrar que isso é errado?
Como você costuma
reagir ao ser contrariada? Se leva uma fechada no trânsito, reage aos berros?
Se você não consegue se controlar, a criança pode estar apenas repetindo o que
vê. Pense nisso. Aceitar as frustrações é uma dificuldade grande hoje em dia para
pais e filhos. Quantas vezes você não se frustra por não ganhar mais ou não ser
reconhecida no trabalho como deveria? Aprender a lidar com os nãos da vida é
fundamental para crescer. “Com uma criança maior, você pode fingir que não
conhece e deixá-la gritando sozinha. Se for embora mesmo, vai ver que nunca
mais ela vai repetir o papelão”, afirma Maria Irene Maluf, pedagoga
especialista em educação especial e em psicopedagogia. No caso das pequenas, a
saída é tentar acalmá-las. “Abrace a criança por trás, vá pedindo calma e faça
sons como ‘shhh’ no ouvido dela. Aos poucos, os pais vão descobrindo o que
funciona. O que não podem de jeito nenhum é aceitar o jogo”, fala Silvia.
8. Meu filho de 1
ano e 2 meses, quando irritado, bate a cabeça no chão ou na parede. Como devo
agir?
Se a criança
estiver correndo o risco de se machucar, é preciso segurá-la e interromper o
ataque, abraçando por trás. Vale tentar a técnica de fazer o som de ‘shhh’ no
ouvido e pedir calma. Se nada disso resolver e ela continuar a fazer escândalo,
é preciso procurar o médico. “A autoagressão não é um comportamento aceitável e
pode indicar sérios transtornos mentais, como a bipolaridade. É grave e precisa
da avaliação de um psiquiatra. Há casos em que elas precisam dormir de capacete
para não se ferir durante o sono”, explica a pedagoga Maria Irene Maluf.
9. Meu bebê de 1
ano e 2 meses vive fazendo pirraça. Devo mostrar a ele o que pode ou não? Ele
já entende o conceito de certo e errado?
Ele ainda não
distingue o certo e o errado, mas nessa idade já começa a perceber
incoerências. “Quantas vezes as crianças nessa fase testam os pais? Ao fazerem
algo, elas olham para eles, ouvem o não, fazem de novo até que o pai ou a mãe
tome uma atitude para impedir o ato. E elas repetem isso muitas vezes,
demonstrando ter certa noção do que é importante”, diz Silvia.
Maiores de 2 anos
10. Minha filha
vive dando escândalos em locais públicos, como o shopping. Como devo
repreendê-la?
Para Maria Irene
Maluf, as crianças com esse tipo de comportamento recorrente são criadas sem
limites e se sentem carentes de afeto e atenção. “Por não se sentirem amadas,
elas tentam cada vez mais a chamar a atenção dos pais.” Isso não quer dizer que
os pais não as amem, apenas que não estão sabendo demonstrar isso. Outra razão
é que muitos pais também não conseguem entender o papel da frustração e temem
não ser amados se não fizerem tudo pelos filhos. “Acabam criando pessoas que
não se satisfazem com nada”, afirma Maria Irene Maluf. Numa situação com essa,
a pedagoga aconselha tentar acalmá-la, abaixando-se para conversar na mesma
altura que ela. Se não resolver, pegue a criança e leve-a para o carro, para
casa, espere que ela se acalme e aí converse.
11. Quando não quer
um objeto ou uma comida, meu filho reage jogando o prato ou o brinquedo longe.
O que eu faço?
Preste atenção na
maneira como você e sua família agem. Ataques de raiva não são privilégio das
crianças, aliás, elas aprendem com os adultos. “Tive um paciente que costumava
atirar o prato pela janela quando não queria comer. Depois de várias sessões em
que os pais negavam que esse tipo de comportamento fosse comum em casa,
descobri que o avô costumava agir assim quando estava irritado, jogando o que
estivesse à mão pela janela do apartamento”, diz Maria Irene. Portanto,
atenção: você está sendo vigiado e seus atos e palavras serão copiados por seus
filhos. “A educação é para ser servida como exemplo e cobrada diariamente,
minuto a minuto. Não adianta dizer uma vez ‘não faça isso’ e achar que é
suficiente. É preciso repreender sempre, com uma voz firme e séria”, diz a
pedagoga.
12. Na hora de
brincar, meu filho prefere bonecas e roupas de menina aos carrinhos e roupas
masculinas. Há algum problema nisso?
Segundo Vera,
nenhum problema. “Brincar exercita a fantasia e é a forma de descarregar no
mundo imaginário o que não podem fazer na vida real. Todos os meninos acabam
brincando de boneca, que nada mais é que o exercício de cuidar, mesmo que o
façam com o ursinho de pelúcia.”
13. Meu filho gosta
de brincar de matar as pessoas. Por muito tempo, evitei comprar armas de
brinquedo, mas ele transforma qualquer objeto em revólver. Devo manter a
proibição?
Na opinião de Vera,
as pessoas confundem o mundo da fantasia e a realidade. “Matar na brincadeira,
como no videogame, é apenas uma maneira de lidar com a agressividade, podendo
destruir de mentirinha. O que não pode é sair por aí batendo nos outros”, acredita
ela.
14. Meu filho é
muito tímido, tem vergonha de brincar com outras crianças. Como posso
incentivá-lo a interagir com os outros?
Ser introspectivo,
mais quieto, com poucos amigos, não é um problema, mas um temperamento, e faz
parte da personalidade. “A extroversão também pode ser uma fonte de angústia.
Os pais só devem se preocupar se a criança não consegue se relacionar,
participar de brincadeiras coletivas ou não gosta de estar com outras pessoas”,
explica Vera. Nesse caso, é preciso buscar a ajuda de um profissional. Mas, se
é apenas timidez, é bom incentivá-lo a brincar com outras crianças, chamar os
coleguinhas para passar à tarde na sua casa, deixar que ele faça seu pedido no
restaurante, pequenos gestos que podem ajudá-lo a se comunicar melhor.
15. Às vezes, faço
chantagem para convencer meu filho a tomar banho ou trocar de roupa. Estou
agindo corretamente?
Tomar banho,
escovar os dentes, sentar-se à mesa para comer e tomar vacina, segundo Vera,
são obrigatórios. “Mas, por volta dos 2 anos de idade, por exemplo, a criança
começa a reivindicar a posse sobre o próprio corpo, até então cuidado somente
pelos outros. Uma sugestão para quando ela não quer tomar banho é fazer o jogo
da autonomia, dando ferramentas e negociando: você compra uma esponja bacana,
um sabonete especial e deixa que ela se lave sozinha, com sua supervisão. Em
troca, uma vez por semana você dá aquele superbanho.” Na hora de se vestir,
também é importante deixar a criança escolher. “Só não dá para deixar sair no
calor com calça de veludo ou descalça no inverno.”
16. Quando saio com
meu filho, ele sempre me pede para comprar algo (um brinquedo, por exemplo). Se
não compro, ele faz um escândalo. Como devo agir?
Segundo Maria
Irene, aos 2 anos de idade, a criança acredita que tudo é dela. Aí os pais a
levam para um lugar encantador, como uma loja de brinquedos. Coloque-se no
lugar do pequeno e imagine-se num lugar com tudo que você mais gosta sem poder
levar quase nada. Para evitar a cena, ela recomenda conversar com o pequeno
antes de sair de casa e definir se vai haver novas aquisições. Outra estratégia
é: “O brinquedo custa o mesmo que a festa que eu daria no seu aniversário, o
que você prefere? Você também pode sugerir que ela escolha vários e deixe para
você decidir, fazendo uma surpresa depois”, diz Maria Irene Maluf.
Vera diz que, a
partir dos 2 anos de idade, a criança já está ligada no que pode ou não
comprar. “Fica difícil para ela aceitar porque para os pais também é muito
complicado não poder consumir o quanto gostariam. E o pior é que muitas vezes,
feridos no próprio orgulho e sentindo-se culpados por não estarem mais
presentes, acabam cedendo e se atolando em dívidas.”
17. Quando saio
para jantar fora, meu filho não para quieto na mesa. Fica correndo pelo restaurante
e incomoda a todos. Devo repreendê-lo?
Sem dúvida nenhuma.
“Quer coisa mais desagradável do que crianças gritando e correndo em volta da
mesa de pessoas desconhecidas? E há pais que simplesmente não se mexem, acham
que o mundo todo tem de tolerar a bagunça de seus filhos”, diz Silvia Amaral.
Claro que não é preciso fazer um drama se eles derramarem a bebida na mesa, mas
é preciso que saibam respeitar limites e isso se aprende em casa, todos os
dias. “Os pais só devem levar os filhos a restaurantes se eles tiverem noções
de conveniência”, acredita Silvia.
É muito importante também observar se o restaurante é indicado para
crianças. “Um lugar com pouca luz, onde os casais vão para namorar,
definitivamente não foi pensado para receber a molecada. O mais apropriado são
restaurantes descontraídos, mas a simplicidade não é desculpa para deixar os
pequenos se pendurarem nos lustres e se esconderem debaixo das mesas dos
outros.”
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